segunda-feira, 13 de maio de 2013

Tic, tac. Tic, tac. Tic, tac. Tic, tac.
Dou outra vista demorada e melancólica ao pequeno relógio dourado que escorrega no meu fino pulso. A falta de claridade obriga-me a levar novamente os olhos aos pequenos ponteiros pacientes.
O quarto está caótico. Passo por cima de castelos de livros de capa dura que me magoam os pés frios e descalços; desvio a roupa vagarosamente até ter acesso ao ninho de lenços de papel a que costumo chamar cama.
Tic, tac, tic. Tic, tac, tic.
Talvez tenha adormecido durante uns escassos minutos e apercebo-me que o monstro de lenços de papel se aconchegou do meu lado. Com esforço, pressiono um botão perdido no meio dos lençóis e acendo o trémulo candeeiro.
Ainda demoras?
Tic, tac, tic, tac.
Ainda demoras?

domingo, 28 de abril de 2013

Ainda dói muito. Ainda fura múltiplas vezes esse pequenino coração, como muitas e muitas agulhas ridiculamente pequeninas, simultaneamente. Como pequenos arranhões que nascem logo que os anteriores cicatrizam.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Tentamos incessantemente conter a substância que nos diferencia do resto do mundo. Tão incessantemente que nos esquecemos de ser nós próprios, contrariando qualquer tipo de reação natural e pessoal. Tão incessantemente que nos esquecemos que somos todos feitos da mesma matéria, exatamente do mesmo agregado de átomos vis, do mesmo sangue fogoso e atroz, da mesma carne esfomeada, do mesmo coração apático, da mesma alma hipócrita e falsa....
Da mesma maneira que as aves voam, os humanos mentem. Da mesma maneira que os peixes nadam, os humanos cobiçam. Da mesma maneira que as cobras rastejam, os humanos traem. Não é mais que a Mãe Natureza agindo conforme o seu dever.
Durante longos e longos anos, a espécie humana - a modestamente auto-nomeada espécie racional - tentou contrariar e provar recorrendo a inúmeros argumentos imbecis que a essência que segregamos é pura, bondosa, doce... Enquanto que eu, confortavelmente sentada, observo esse amontoado de gente idiota, cansada de contrariar aquilo que a natureza desenhou para nós próprios.